Ideas from ma.trumi

segunda-feira, 14 de outubro de 2013



C-est peut-etre une illusion mais pourtant je crois que la memoire de beaucoup d-entre nous garde plus d-empreinte des jours d-enfance qu-on ne le croit generalement de meme que je crois la faculte de l-observation souvent tres developpee et tres exacte chez les enfants. http://stillwatertrade.com/octstart.php
10/14/2013 5:21:28 PM

Do lixo ao luxo: da escola pública à PUC

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Em meu jardim de infância, estudei no prestigiado colégio Objetivo em Santos, graças ao meu avô que ganhava uma boa pensão da Alemanha e sempre se preocupou com a educação dos netos. Termina aqui todo ensino de qualidade que eu recebi de uma instituição de ensino. Quando meu avô faleceu, eu e meu irmão fomos transferidos para uma escola pública.

Meu pai nunca terminou o ensino fundamental, e minha mãe abandonou a faculdade de assistente social logo no primeiro ano. Por ela ser uma mulher instruída, sempre incentivou a leitura dentro de casa. Eu e meu irmão líamos desde histórias em quadrinhos, dezenas por semana, ate clássicos da literatura – internacional e nacional. Por conta disso, sempre fui boa aluna e muito interessada em aprender, ao Mauricio de Souza devo agradecer por ter sido a primeira aluna na pré-escola a aprender a ler com fluência.

A escola pública deficiente nunca incentivou o meu gosto pelo saber. O duro trabalho dos professores em "adestrar" 45 alunos ao mesmo tempo em uma classe apertada e sem a menor estrutura, inviabilizava qualquer tentativa de aula normal.

Encontrar um aluno interessado em aprender dentro da escola inteira tornava-se um desafio. A biblioteca do meu colégio era o único ponto positivo, o governo, todo ano, se preocupava em mandar novos exemplares de diversos livros, mas nem isso atraia aos alunos, a biblioteca sempre ficava deserta, e entrar lá tornava-se motivo de chacota entre os estudantes.

Sempre gostei mais das ciências humanas, por isso eu estudava sozinha em casa História e Geografia. Cheguei a ensinar meus colegas na escola o mapa-mundi: em pleno colegial eles não sabiam diferenciar em qual continente ficavam os países. Em contrapartida, eu era péssima em ciências exatas, isso quando havia algum professor interessado em passar o conteúdo na escola. As minhas aulas de História foram, durante a 5ª e 8ª série, explicando o sistema feudal, estudávamos por um livro de História caduco, quatro anos estudando a mesma coisa, e o pior, quase ninguém na minha sala sabia dizer o que foi o sistema feudal.

Quando concluí o ensino médio consegui um bom desconto em um cursinho em Santos, cidade onde nasci e estudei toda a vida. Pagando menos de 200 reais mensais, finalmente tive contato com aquilo que me foi privado durante o período escolar: material didático, professores preparados, alunos interessados, aulas laboratoriais, para mim aquilo era surreal. Entretanto, a minha dificuldade em acompanhar essas aulas era trágica. Enquanto eu sentia que para a maioria dos alunos o conteúdo passado era apenas uma revisão do que aprenderam no ensino médio, para mim era tudo novo e complexo. Fui então reprovada no vestibular. Ilusão a minha achar que eu era capaz de derrotar a concorrência de 47 alunos disputando uma vaga para o curso de jornalismo na USP, sem que ao menos eu tivesse uma única aula de Física no colegial.

Desanimada, deixei essa história de entrar na universidade de lado, e me dediquei a outras coisas na vida. Passaram-se quatro anos, eu me casei, mas sempre pensava em voltar a estudar. A gente nunca pode parar de aprender. Meu marido, que é formado em Relações Internacionais, sempre me apoiou a buscar o melhor dentro dos estudos. Quando ouvi falar do prouni, peguei livros emprestados e me dediquei a estudar sozinha todo o edital do exame, que na verdade não era difícil. O governo não pode exigir na prova o que nunca deu no ensino médio. A questão era testar o raciocínio lógico, uma forma de seleção natural. Quando o resultado saiu, todo o sonho de um título acadêmico que quase foi abandonado veio a tona novamente.

O período de inscrição foi muito estressante: três dias inteiros na fila para a matricula era o mínimo que os aprovados pelo enem precisaram enfrentar para se tornarem então filhos da PUC. Em paralelo a isso, os professores do nosso curso nos receberam muito bem e são compreensíveis com as nossas dificuldades. Muitas vezes eu meus colegas do prouni nos reunimos após as aulas para discutirmos de forma mais detalhada os trabalhos do curso. É uma forma de superarmos as deformidades de nosso ensino precário e devolver de forma positiva a oportunidade que recebemos.

Devo admitir que conciliar a vida de casada com estudos acadêmicos é uma loucura, mas não é impossível. Sem ter minha mãe ou minha sogra por perto, e meu marido trabalhando o dia inteiro, me revezo entre preparar o jantar, cuidar da casa e analisar a esfera pública de Habermas, entender a Escola de Frankfurt e fazer as dezenas de trabalhos que a nossa professora de lingüística pede toda semana.

Para concluir minha história, termino com um final até então feliz. Quando conheci aqueles que seriam meus futuros colegas, também do prouni, logo me identifiquei com eles. Eram alunos que se destacavam em suas escolas precárias do governo. Pessoas que se sentiam lesadas pelo ensino que receberam e possuem um potencial enorme que nunca fora explorado ou creditado pelos professores,alunos esforçados e preocupados em subir na vida, de aprender e de mudar o histórico de suas famílias: que nossos filhos repitam o sucesso de nossas histórias, entretanto, por caminhos muito mais fáceis.

Abertura da Semana de Jornalismo conta com a presença de reitor e convidados ilustres

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O tema deste ano abordou a relação entre os direitos humanos e o jornalismo

 

Por: Diego Gouveia

 

Na manhã do dia 24 de maio de 2010 ocorreu a abertura oficial da Semana de Jornalismo, promovida todos os anos pelo Departamento de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), em parceria com os alunos do curso de jornalismo. Realizada na sala 239 do prédio novo da unidade Perdizes, a Cerimônia de abertura contou com a presença do reitor da PUCSP, professor Dirceu de Mello. O tema escolhido para este ano foi "Jornalismo e Direitos Humanos: Compromisso dos jornalistas e o papel da imprensa no Brasil". A primeira mesa de discussão recebeu a participação do Candidato à presidência pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, e a juíza da Associação dos Juízes para a Democracia, Kenarik Boujikian Felippe. A mediação ficou por conta do professor do curso de jornalismo da PUCSP, José Arbex Jr.

Em seu discurso de abertura, o reitor Dirceu de Mello agradeceu o convite, ressaltou a importância do curso de jornalismo, e até confidenciou que quase chegou a atuar no ramo jornalístico, não o fazendo porque, na época, conseguiu uma grande oportunidade como advogado. Por fim lamentou não poder assistir à mesa que se seguia, pois tinha compromisso em outro lugar.

A primeira mesa de discussão da semana teve como assunto "A luta pelos direitos humanos no Brasil". Na primeira parte da discussão, o candidato à presidência pelo PSOL, Plínio de Arruda, ressaltou a importância da garantia dos direitos humanos para todos "independentemente do que tenha feito". Falou da defesa dos direitos humanos mesmo contra a opinião pública, quando esta age de maneira vingativa, criticando o estilo repórter policial, como o de Datena e Afanasio. "Você não pode condenar uma pessoa antes do julgamento". E concluiu afirmando que "o jornalismo é um lugar de muito poder".

A juíza Kenarik Boujikan citou o artigo 3º da constituição de 1988, afirmando existir uma contradição entre este e as demandas neoliberais. Em relação à adoção do discurso neoliberal, afirmou que "a imprensa teve papel fundamental para vender que este neoliberalismo é vantajoso". Sobre a relação entre o juiz e o neoliberalismo disse que "Não dá pra ser juiz sem saber o que está acontecendo no seu país". Levantou a discussão sobre a questão da imparcialidade, ao afirmar que nem o juiz, nem o jornalista são totalmente imparciais. "O juiz é imparcial no decorrer do processo". Falou da censura praticada por juizes contra jornalistas nos casos onde os mesmos são proibidos de falar sobre certas pessoas, e classificou isso como uma violação de direitos. "Tá pior do que na época da ditadura, nesse aspecto". Ainda lembrou da autocensura por parte dos jornalistas e que "existem formas sutis de violar os direitos humanos" através da forma como é escrita uma notícia.

A segunda parte das discussões foi aberta para perguntas do público aos participantes da mesa. De posse da palavra, Plínio Arruda reiterou a afirmação de sua companheira de mesa ao dizer que "o jornalismo tem que ser parcial, sempre foi (...) o juiz extravasa na sentença sua visão de mundo (...) o conceito de parcialidade tem que ser claro". E terminou fazendo uma ressalva sobre os diversos movimentos que estão surgindo na sociedade (tal qual os ambientais): "tudo que vira tudo acaba em nada".

Já a juíza Kenarik Boujikian explicou que o juiz é parcial quando tem um compromisso. Falando de si própria disse: "minha opção política é: garantir o que está na constituição". Falou que a forma como o juiz pergunta tem um compromisso político, e diferenciou um juiz imparcial de um arbitrário. Indagada sobre o que falta para impedir a violação dos direitos humanos no Brasil, visto que o mesmo possui uma das mais avançadas constituições do mundo, além de uma série de estatutos que, teoricamente, garantem a preservação dos direitos humanos, a resposta da juíza foi: "lutar e resistir". Finalizou sua fala afirmando que os direitos vem de um processo, e que é preciso fazer pressão dentro dos mecanismos do Estado.



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O vírus do eufemismo

Por: Diego Gouveia

 

No último domingo, seis de junho de 2010, a senhora Suzana Singer, ombudsman da Folha de S. Paulo, publicou em sua coluna uma nota onde criticava a forma como foi abordada, pela Folha, a questão dos problemas tributários enfrentados pela Natura junto à União e os Estados. O presente texto pretende dialogar diretamente com a senhora, Suzana Singer, e tentar relatar as impressões que o seu texto podem estar causando nos leitores.

Com o devido respeito, ao que parece, a Natura está, sim, sonegando impostos. Pela reportagem publicada na Folha terça-feira (01/06/10), no caderno Mercado, fica claro que a empresa está sob suspeita de ter feito transações ilegais para evitar pagar imposto. Logicamente que a Natura, como toda grande empresa, paga muitos impostos e possui um grande passivo tributário, porém não parece ser esta a questão que a Receita Federal está tentando descobrir em suas investigações. O que ficou subentendido em sua nota foi uma tentativa de "proteger" a Natura, fazendo parecer que a Folha omitiu informações, e que o fato não é tão grave como deixa parecer a reportagem. Obviamente que essa "acusação" tem um fundo de verdade. Não podemos esquecer que o diretor da Natura é o vice da chapa que pretende eleger Marina Silva (PV) presidente do Brasil. A Folha se declara neutra, mas quis claramente "sujar" a imagem do vice de Marina Silva, e conseqüentemente a imagem desta, ao publicar no caderno Poder de quarta-feira (02/06/10) uma continuação da reportagem de terça, ao invés de publicar a mesma no caderno Mercado, como feito no dia anterior, e dando destaque para o caso da Natura, esquecendo do Santander, também sob investigação. Claro que sua autocensura não permitiria citar tal fato, o que me leva a defender a tese de que melhor seria se nada tivesse sido citado em sua coluna sobre o assunto.

O que doeu mais não foi o fato de a senhora não ter citado as pretensões políticas na cobertura da Folha, mas sim tentar justificar algo errado através de atitudes erradas dos outros. O que a sua nota deixou transparecer é que, no final, o que vale é a mentalidade popular de "todo mundo faz, tenho direito de fazer também". Nunca um erro deveria ser justificado desta maneira, ainda mais um que envolve mais de um bilhão de reais que deveriam estar nos cofres públicos. Dívidas tributárias são comuns às grandes empresas, porém isso não quer dizer que sejam algo correto. É necessária a cobertura da imprensa sobre este assunto, justamente para evitar sonegações, como parece ser o caso da Natura. Interpretação errada das leis e altas cargas de impostos não deve servir de eufemismo para atitudes ilegais. Tenho certeza que esta não era a mensagem que a senhora gostaria de passar, contudo fica o alerta: é preciso ter certeza que um texto transmita exatamente a mensagem que queremos que ele transmita, e não outra.



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